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... palavras ressarcidas na água ...










epígrafe







ou a oneração do sobre.fâmulo 




















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(…)
Entre o princípio e o fim vem corroer
as vísceras, que ocultamos como a Terra.
Trilam os lábios nossos, à semelhança
das musicais manhãs dos pássaros.
Mesmo os ouvidos cantam até à noite
ouvindo o amor de cada dia.
A pele escorre pelo corpo, com o seu correr
de água, e as lágrimas da angústia
são estridentes quando buscam o eco.
Mas nós sentimos dentro do coração que somos
filhos dilectos do tempo e que, se hoje amamos,
foi depois de termos amado ontem.
O tempo é silencioso e enigmático
imerso no denso calor do ventre.
Guardado no silêncio mais espesso,
o tempo faz e desfaz a vida.


Fiama Hasse Pais Brandão
in Cenas Vivas

.

há um calor subterrâneo que
modela os meus gestos como
um cavalo
cujos antolhos só lhe permitem
galopar o comprimento da liça
.resto-me
- num silêncio de água -
cega para o mundo
numa visão estreita e divergente
.o céu é negro
.não há vislumbre de aves na
planura do deserto
.assinto as linhas rectas e
convoco os vultos dos túmulos
faraónicos para um encontro
im.perecível
.chove a luz branca da lua enquanto
no pórtico dos afectos
a erosão é o limite .a passagem
um campo aberto à memória
onde
sem remorsos
ardo sob(re) os fios do vento


Gabriela Rocha Martins
in .anamneses.








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Kilian Schoenberger







metáforas &ncriptadas


[ (con)sonâncias ao en tarde'Ser ]









poder pode mas não deve







rodolfo ledel







pode o silêncio ser o diferente mente agrafado ou o rasgar a dúvida o invulgar mente aceite como verdade absoluta? sentenças escritas na assimetria do vazio ou ardis abrigados em envelopes azuis? relutante face ao facilitismo a palavra esgrime-se .distancia-se .foge .aproxima-se .divaga e soletra em fuga permanente
.assim o vulgar em calafrio endeusado





despeço-me devagar mente do Inverno molhado







rodolfo ledel







des.confio em compasso de não o primeiro sinal de sol .vertigem capitular da terra em demolha cerrada .chove  no apagar do dia no acender a noite no sobressalto do mar .depuração de vagas .amarras quebradas .gentes sofridas .e o cinzento plúmbeo enjeita a razão que se despede em envelope selado .é este o capítulo cruzado no beijo dos anjos
despedido o Inverno .Leviatã aquece o vinho e eu esventro
o mistério do tempo que teima em tributar a chuva  






a dúvida e o contraditório







rodolfo ledel







e agora? que faço da água que me tem escrava do ser-maré? do vento-ladrão? da chuva que em profundo des.acerto incita o meu regresso ao útero-materno? vigio a presença do breve e se escrevo logo aponto os dedos para o cursor molhado .cercam-se os ritmos e as bátegas conflituam a vigília que se quer já seca .até o parêntese .apesar de breve .apesar de logo se exigir a rendição da chuva .desisto .melhor assumir a queda de água como um prenúncio
breve de uma razão maior .um aceitar a borrasca como um bem necessário
.porque não malsão?






sou da causa e efeito o reduto final







rodolfo ledel







respiro fundo .sem agravo .remetida ao sublime abono de uma Fiama que me tutela a intransigência ao fácil e à transição desenhada de uma Gabriela Llansol na evocação de um persecutório referente .invoco-as .e em constante des.acerto delas absorvo a causa e o efeito do verso  numa abstinência exangue ao evidente .disseco-as .e em vogais ásperas registo-as em consonância ao resgate cúmplice de quem
no ventre da escrita gravita o desafio como reduto final e
gasto-me






nem tudo são rosas ,meu Senhor







rodolfo ledel







retrocedo devagar mente para valsar a epimania dos Amantes
apócrifos






o jogo das palavras difíceis







rodolfo ledel







a minha cabeça tornou-se uma enorme bola em transição .desapossada de pensamento desajuizei e o meu corpo provocou sem remissão um acentuado declínio no estruturalismo consentido das metáforas .no atonismo de projectos .nos estropos .em caprichos e estrugimentos onde o rosto espelha o des.amor das noites (con)sentidas e dos dias des.amistados na exaustão de agravos .in extremis reassumo a posição de controlo e (con)sinto o desajoujo acéfalo
encanando o invisível no estrujo do esquecimento






a “sua” password foi alterada







rodolfo ledel







ao homiziar os percutores há que demandar  ao absurdo os expectáveis pontos de resistência .ninguém é uma simples equação matemática como a ninguém se questiona a legitimidade de Ser-um ritmo de ambições in.alcançáveis quando o estádio superior do conhecimento exige movimentos figurados de falsas unicidades
comuns à truania de por trilhos e veredas atingir  o ponto  de não retorno
como torpedear valores consignados pela inhumana e gélida metamorfose passa a ser a password daqueles que ontem se tiveram  como laudatório de conflitos ou eutanásia de princípios






uma nota de aquoso solfejo







rodolfo ledel







talvez possa ciciar jovial medrança
.tenho o refúgio do vento como barca de além-mar






apraz-me o resmungo da noite







rodolfo ledel







é de noite que resmungo a temperança de me saber escrita .credível ou não .tempero de aleurismas num augúrio de constructos
.é de noite que insinuo a crispação das cores como é de noite que tardo o tempo de renovar o intocável
.é de noite que envolta em vário matiz assinto o passadio do nu serva de epifanias e
mastigo o som do silêncio (con)sagrado só para mim






a hora do lobo







rodolfo ledel







cheguei à hora do lobo .pedi-lhe por empréstimo a audácia e a extrema solidão .abri o peito à teimosia de me haver em fim de tolerância e fiz das unhas garras de extermínio .desprendo os fios que a morte deixou pendurados à boca do vento e ousei-me in.sepulta nos dias bárbaros que perseguem o meu a-deus ao tempo das saudades menores .quero-me em noite de renda e de estranhamentos renovados cansada do
menoscabo das vozes merencórias






exige-se o expurgo do hoje







rodolfo ledel







é ao som do violino que procuro a forma de rechaçar o cérebro .de abri-lo e perceber que o tempo é a forma conceptual de esgrimir o amanhã .assentar o barulho e passar de um modo de cimentar o equilíbrio mimético das mãos com a paragem do igual mente exigível .um pousio não desejado fomenta o des.interesse .a apatia contradiz a vontade e os minutos desprendem-se in.orgânicos seguros pelas horas e pelos dias .monótonos .as vozes circundantes tornam-se turbulências não desejadas e nada é mais exigível que o expurgo do
hoje repetido à exaustão






a humildade do meu último baile de máscaras







rodolfo ledel







na lombada de um livro ensaiarei o meu último baile de máscaras .palmarei grifos em páginas e em cada folha podarei ramos e ramos de orquídeas negras .ressalvo-me da sedução ao deixar a litania sob a arcada virada a sul já que a norte a vulgarização das línguas saudará as laudas dos posfácios .as badanas servir-me-ão de harpa às recensões e as anástrofes que darão forma ao  miolo serão a purga dos poemas
macerados de pinceladas geniais






farta de tanta chuva







rodolfo ledel







amanhã amoldarei o sol ao estribilho aguado da chuva






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... há rasgos havidos tão além ...










ao ritmo lento do sol de inverno







rodolfo ledel







é pouca a vontade de des.fadigar o estio
.ao contrário da sombra a árvore é pousada






um des-abraço moribundo







rodolfo ledel







Pietà .a dor de Maria soluça o des-abraço do filho moribundo .invade-se a dor no colo de uma mater amargurada .os braços distendem-se num des.apego de morte e o rosto transige a aceitação de uma mulher com o degelo nos olhos .já não chora .cansaram-se as fontes ao debelar o ritmo encenado  de uma vida presa aos invernos carnais .assim Maria .a marmórea Pietà a quem Michelangelo elevou ao sagrado .a mater donzela ou
a fêmea mátria eternizada no mármore das acres viuvezes






sobreviver ao futuro







rodolfo ledel







não é fácil quietar o medo à sombra do volúvel
.há sempre um corte de névoa a melindrar o futuro






carpidor de frutos secos







lucio ranucci







agora vou plantar amigos ao longo do caminho .da dor in.sepulta que me foi mágoa levantei num allegro ma non tropo a brejeirice de um nocturno cujo contacto sigo ou abandono conforme a placidez que me adormece .tenho fome de novas moradas quando qual mísero ponto me aposto a negociar o valor das aguadilhas ou o som dos instrumentos que vou adquirindo  como inquilina de certas orfandades .amanhã quando me souber de novo fruto maduro
fecharei o livro e encostarei o violino à sombra de um vaga-lume






à proa de um barco imaginário







lucio ranucci







deambulei ao ritmo alucinante do vazio à proa de um suposto barco cujo arpoar me é chegada em tarde plúmbea .vaticinei fluentes e derrames ao capricho de um brincar ao esconde-esconde que ora acolhe ora rejeita em jogo de resguardos certa que é na alquimia dos sobressaltos que me deixo afrontar pelo levante de ramos e remos cuspidos pela tormenta .náufragos de um desfazer cegueiras assentamo-los mar-adentro enquanto mar-afora a destruição
arvora gargantas onde a morte arroja




a capitulação cerebral







lucio ranucci







incurioso o prognóstico dos deuses no padrão ferrado dos mortais .o vazio preenche o vão que se me induz na cabeça robotizada e os ouvidos distraem-se na conflitualidade dos sons que se misturam aos ruídos .há uma agonia tangível e o cérebro qualifica .insurge-se num hiato de horas minutos e segundos .uma noite e um dia até que o desassossego inventa um óbito ao tremor que tenta suturar dúvidas .entendê-las .quietá-las .torna-se queda a linha da razoabilidade e a angústia subsiste entre o saber e o medo
escravizado pela razão que assiste ao diagnóstico .a quem seduz o meu erro?






na delicadeza de devassar o gesto







lucio ranucci







no desarrumo das notas graves se me apresso a retomar o aprumo do gesto maestrino perco no delírio ungido em acção de graça a bem-aventurança de Asmodeu .não olho aos meios que os bichos me ofertam pelo caminho nem os sibilinos alvores que as víboras se apressam a consentir-me como magma de irmandade .circunspecto o modo de disfarçar a vergôntea
escondo o madraço na delicadeza de um arvorar devassas






sobre um chão cravado de improvisos







lucio ranucci







assim a placidez temperada de um acrescentar levezas aos coágulos de pó abandonados sobre as vigas do meu sossegar mais brando .visgo de vinho tardo largado disfarçada mente sobre o meu corpo muda a voz turvo o ventre como menosprezo de um diálogo concebido entre o ruído e o silêncio .amanhã serei mosaico se a parede permitir ou ruga se o cetim do meu vestido sopresar rendilhados sobre um chão de ensopar
disfarces cravados no improviso das rasuras






desassisos e atrofias temperados pela chuva







lucio ranucci







é em dias de chuva e vento que os meus dedos se recolhem mais facil mente às canículas .solfejam-nas no diabolismo dos motejos e se se perdem nas veredas de outras margens tendem a sufragar os lampejos escarninhos da poesia .arrojam-se pelo chão porque na escrita são pesadas as correntes sustidas pelo desassiso ou pelas atrofias temperadas dos salpicos astrosos .acrescem coágulos neste desnorte de tempo assistido pelo desasnear da chuva cujo vento os
precipita ao sabor de um tempo mecânico de desarrumo






no rescaldo do tempo moribundo







lucio ranucci







calam-se os choros .apagam-se as vozes e o chilreio dos pássaros perde-se na implosão da tormenta .os meninos esquecem as gargalhadas nas algibeiras dos casacos e o silêncio regressa após o estrépito .é o domínio da retoma .do livre alvitre .no útero da terra-mãe adormece o conflito e a raiva .é hora dos sinais se re.agruparem enquanto o canteiro das peónias – (con)sentido ao fundo do quintal – re.assume na evidência da sua pequenez
o papel de dignitário






em consistório final







lucio ranucci







especial mente hoje em que as horas se arrastam ao sabor fero do vento angustio a vontade de concatenar o despresso da luz .fecho portas e janelas .as frinchas espaçam pelas paredes e os cantos mais recônditos da casa implodem com a tormenta e os trovões .o vento é malsofrido .nervoso .senhor da noite .da manhã .da tarde .ressoa em demoníaco cercado e tarda no arrasar os limites
.a turbulência supre o exclusivo .em consistório final






renúncia ou desvario?







lucio ranucci







agora acordo devagar mente com as palavras precoces
.renuncio às amoras silvestres






a cumplicidade num estender de mão







lucio ranucci







gosto de me perder no olhar do cão .ansiá-lo no estender a pata .alongar o corpo e ressonar os vivos com olhos vagamundos .pouso a minha mão sobre a sua cabeça no mistério cúmplice de um olhar terno .recolho a mão enquanto as costas se me despedem num até logo à guarda da ausência .entre ambos a simbiose perfeita do aconchegar a eficácia dos gestos permitidos .de recebê-los à boca do (con)sentimento
eu perco-me na opacidade do atravessar a tarde em busca de novos andamentos
o cão lambe as forças conjugáveis de um estar assim mais nós






horas mortas ao serviço do demo







lucio ranucci







não encontro entre o sossego do cão que me espreita do outro lado da janela e o espectro da hora de chorar os vivos verosimilhança ou arrojo .um descansa a cabeça sobre as patas dianteiras como se a vida lhe houvesse por direito .um levantar devagar assumido em gestos simbólicos .um advir ao ritmo lento de quem vive tranquilo .vigílias deixadas ao poente quando os espectros lançam os dentes sobre  a perfídia crivada por crises de identidade
.abandona o cão a serventia magoada do impulso .eu deixo-a conflituar





dias de não-e-não







lucio ranucci







um velho suicidário e louco despede-se dos dias em não .uma mão cheia de vergônteas sobressai enquanto no fim da tarde as sombras revestem os lugares de prece .e é nestes dias de não-e-não que as crianças modelizam-se de velhos e estes de jovens aprendizes trocadas as voltas à morte .é aqui .neste espaço de vento suão que sopram laivos de poesia .trípticos acordes .álgidos cantos
revelos de um sobre-viver infante






manifesto em fim de acto







lucio ranucci







reservo-me ao apocalipse dos remorsos transcritos em contra-mão .um relógio marca os segundos .tic-tac .tic-tac .volúpia de um registo ou um mero epitáfio agregado ao mistério de uma tarde macerada pelo ritmo da leveza .há uma nostalgia mimética na opacidade dos dias .álgida a leitura dos signos perde-se no vagueio pelo efémero .nada .nada como o olhar vago do fantasma em irrisório fim de acto .nada .nada como a máscara re.posta
na palidez de um rosto enquistado na cupidez






Lady Macbeth







lucio ranucci







ironia de uma quarta-feira reservada à metalinguagem tendo o ruído como fundo .exijo-a como um lençol de begónias onde os pássaros enrolam-se como loucos .há um riso para além do trágico como palco sepulcral do etéreo porque alguém ousou interpolar a claridade que morre lá fora .talvez Lady Macbeth cravado o punhal no significado das culpas aparentes haja afiançado os pássaros que
na ambição dos falsos agravos resistem à penhora dos escrúpulos






dejejum forçado







lucio ranucci







é aquele o preciso momento em que a máscara cai .olho-a .re.coloco-a ou licencio-a? demite-se através do silêncio dos seus não-olhos num defraudo já saudoso  .invade-me o tempo de desfazer vertigens .com a mão esquerda des.ordeno-me nos cabelos de Medusa .abocanham-me .com a direita esculpo-me em pedra e algum luto a fim de absorver-me nas folhas de papel amarrotadas sobre a cama onde as serpentes dejectam devagar mente .tenho pressa de futuro .ergo a máscara e adapto-a porque o tempo - deputo de incisão – insinua-se como
galanteio onde a entrança dejejua






prólogo .o tempo é ( só ) de aparente ironia







lucio ranucci







devagar mente o cigalheiro omite-se
modelar mente o desmedro compromete-se
comum mente inúteis sorvidos num esgar de tédios quando a vida se despe.de desejos congelados
.entre o real e o aleatório a voz como prenúncio de um acordar os aleurismas






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... ao re.tardar a escrita ...