a in.continência do verbo







galopam os olhos quais corcéis bravios
sobre páginas e verbos e frases e códices
que as musas esqueceram sob o balcão
das donas .sortilégios famintos cobertos
de vozes elevam-se morrentes como
cantores de memórias na cumplicidade
de um sorriso que se propaga em tempo
de a-deus .o poema arrisca-se entre
o apagar e o correr numa in.constância
de cinzas .avivam-se as chamas e o vazio
acresce uma gotícula ao pensamento .outra
apronta-se ao longo da espera .não faz
sentido a partida .ser um pouco mais do
mesmo .a matéria bruta agita-se .rasga-
-se num olhar de alto e tudo se esvai
putrefacto o idílio
.abrando a forma de dar uma nova substância
à des.construção da frase e entre o fio
angular e o seguir o melro encostado à parede
opto pelo grito .des.leio os alicerces e atravesso
a in.continência num lírico peditório







caras ionut







em piedosas ardências







quando a ironia assiste a um gesto cáustico
este simula-se em tantas variáveis quanto
os áureos
despidos do manto da Língua
.erguem-se em opinados
louvores .há uma vontade subliminar
que entorpece o fascínio e o entendimento
oprimido do Ser-em-si
acoita-se no diuturnizar da in.tolerância .o
des.conforto repete-se em novas frases e
parágrafos
caminheiros alvitrados ante a não rendição
.a moeda de troca ajusta-se e
o in.definível atém-se como reduto final
.assim meu gesto
tapizado
ao abjurar a tensão






caras ionut







para lá do passo







em tempo de me abreviar
arquivo o fascínio
em reclusões menores e
no balanço da onda enviúvo o silêncio
em páginas de filigrana .assim
menina recluso-me em tempo de a-mar
no véu que me tolda o
rosto .não resisto ao afago .à cópula
sombra monástica que me envelhece os
fantasmas
.na cadência álgida de um
des.construir argúcias
existo-me
entre acefalias gráficas num atormentar
mais tarde e decanto-me num valsado rechego
ao re.coitar
silente
a noite maior
assistida pela in.sanidade dos arcanos 






caras ionut







.3

























 trocadilhos dissimulados ... 
























.2







É Virtude Dissimular a Virtude

(…)
A dissimulação não é uma fraude. É uma indústria de não mostrar as coisas como são. E é indústria difícil: para nela ser excelente é preciso que os outros não reconheçam a nossa excelência. Se alguém ficasse célebre pela sua capacidade de camuflar-se, como os actores, todos saberiam que ele não é o que finge ser. Mas dos excelentes dissimuladores, que existiram e existem, não se tem notícia alguma.
- E notai - acrescentou o senhor de Salazar -, que convidando a dissimular não vos convidamos a permanecer mudo como um parvo. Pelo contrário. Deveis aprender a fazer com a palavra arguta o que não podeis fazer com a palavra aberta; a mover-vos num mundo que privilegia a aparência, com todos os desembaraços da eloquência, a ser tecelão de palavras de seda. Se as flechas perfuram o corpo, as palavras podem trespassar a alma.

Umberto Eco, in 'A Ilha do Dia Antes'

*

na confusão das fontes

laço des.faço e traço o fio com que Penélope
na confusão pusilâme do Ser se apraz
em a-braço para na clássica quietude da
tarde quedar-se atenta à vigilância dos que
ainda hão-de chegar

um rodopio doce é o elo
entre mim e a evidência do
ante-Ser que se esfuma no mistério da criação

tudo o que des.faço e traço é apenas o
alimento exaurido pelo sangue novo
quando lúcida me deixo escorrer entre a 
a noite e os versos golpeados pela tesoura
aberta na Ausência

sorvo o silêncio e tenho sede

Gabriela Rocha Martins ,in “timoratos balastros”
(… “num com.passo de cor que já foi canto” …) ,1981-2005







rezam as crónicas e as crendices







no demando
amargo e doce
de um costear mais bravo 
a entrância
pleiteadas as exclamações 
revolta-se em aplausos febris .acerta o
molde e re.integra-se num des.fazer
homónimos pranteado o mênstruo
 .afigura-se regina
a mater
regionária figura que o torno transfigura e
se o reino
for termo
o reiterável assume 
a regência
a-fora o sobrevivencialismo
do ardil
.o mistério subsiste no um dois três e quatro
admitidos como invasivos
intróitos de um acender a noite
despida a manhã num a-deus mais logo
.o vazio acresce






naoto hattori








rendas de branco







é no cadinho de uma acerejada agonia
que o reverso do medo se abrasa
em rendas de branco .são matizes de
um brincar menino onde as palavras
copejadas pelo afecto
se entre.laçam e beijam
ansiosas pela tornada ao ninho .a ave
nexo de um assombro de nume
abriga-as
doce mente
como se a nudez fosse mátria de adornos
não necessários quando a poesia acontece
como causa navegante no limite do in.certo
porque
curvados os rostos
o aconchego se apronta na
rotina de uma vulgar encenação 






naoto hattori







-enquanto-







fundeados os modos de sagrar o divino
inferniza-se o verbo na sobrevivência
de um aleatório orar .nada se confirma
num silêncio (con)sagrado no abandono
como nada se diferencia num acordar os
ratos nas margens dos pântanos .as
armadilhas deixam marcas enquanto
os machos demoram o olhar no
ofício da singularidade .mordem as mãos .a
boca oscila entre o a-braço e o grito e o
corpo assenta a poeira dos lugares
comuns
-enquanto-
vinculado à ambiguidade
um mar de gente afoga o rosto
no vaticínio de um pulsar canhestro






naoto hattori







o longe ir.reverente ao perto







inundada de uma afonia pioneira do não e duma
demanda
arrogante e crítica
o sim desce sobre o longe numa fuga ao canto das
desistência nervosas .vingam-se os dedos sobre a
ir.reverência da carne
.corporizado o amor
soltam-se os ventos arquivados no tronco certeiro
do longe .há um inundar de equívocos se denunciadas
as fugas e um fundear de artifícios moldadas as
perguntas .tornam-se imaginárias as respostas .e é na
confluência do agora que a denúncia agrava o falso
apostado em prosaicas carícias .o tempo
arvora a poeira e retirada a máscara em sacro ritual
adjectiva-se um modo outro
de ignorar a ganância literatizada em hasta pública






naoto hattori







regresso tardo às origens







há um golpe rude e certeiro que
casuistica mente
quieta a palavra
.fá-la retroceder à concha inicial onde
no rio de todas as memórias se
manifesta a saudade e como um
resquício de ternura deixa-a crescer
na perfídia nocturna que um a-mar mais
bravo acresce ao sonho .na casa
do lago
um livro de horas falha o preciso segundo
de acreditar o futuro já que tardo o engano
se perde em gestos no descarno do outro
.ninguém re.verte o
in.dizível
que de passagem
aflora o ilusório e na demência da
frase ressarcida numa página em branco
doura o mistério demiurgo do moldador
.a palavra
enquanto o café arrefece
demite-se do elitismo dos segredos apócrifos






naoto hattori







digo a-deus com ternura nas mãos







agasto temporal
de um soluço
aguçado pelo a-deus
.raiz de um pensar entre o chão e
a roda do tempo .lacrimosa
.afagada pelo lapso de
um golpear o voo .assedado
.quimera de um re.pensar
o rendilhado ajuste de
um corpo devastado .assim
.porquê o golpe?






naoto hattori







rasgos de ternura







rasga-se
de-mais
a ternura em
saudades .merencórias
.feras .em palavras
a que as lágrimas
- causa e efeito
- sucumbem como
gritos sufocados
num a-deus resistente
ao último minuto
.as horas querem-se de
memórias
.assim o parto a que o silêncio
se contra-diz
em tempo de morte






naoto hattori







atrofias temperadas pela chuva







é em dias de chuva e vento que
os meus dedos se recolhem
mais facil mente
às canículas .solfejam-nas no
diabolismo dos motejos e se
se perdem nas veredas de
outras margens tendem
a sufragar os lampejos da poesia
.arrojam-se pelo chão porque
na escrita
são pesadas as correntes
sustidas pelo desas.siso ou pelas
atrofias temperadas dos
salpicos astrosos .acrescem coágulos
neste des.norte de tempo assistido
pelo des.asnear da chuva cujo vento
os precipita ao sabor de um tempo
mecânico






monika serkowska







na delicadeza de devassar o gesto







no des.arrumo das notas graves
se me apresso a re.tomar o aprumo do
gesto maestrino perco no
delírio ungido em acção de
graça a bem-aventurança de Asmodeu
.não olho aos meios que os bichos me
ofertam pelo caminho nem os sibilinos
alvores que as víboras se apressam a
(con)sentir-me como magma de
irmandade .circunspecto o modo de
disfarçar a vergôntea
escondo o madraço na delicadeza de
um arvorar devassas






monika serkowska







manifesto em fim de acto







reservo-me ao apocalipse dos remorsos
transcritos em contra-mão .um relógio
marca os segundos .tic-tac .tic-tac
.volúpia de um registo ou um epitáfio
agregado ao mistério de uma tarde
macerada pelo ritmo da leveza
.há uma nostalgia mimética
na opacidade dos dias quando
a leitura dos signos se perde no
vagueio pelo efémero .nada
.nada como o olhar vago do
fantasma em irrisório fim de acto .nada
.nada como a máscara re.posta
na palidez de um rosto
enquistado na cupidez






monika serkowska







o tempo é ( só ) de aparente ironia







devagar mente
o túmido insinua-se
.modelar mente
o rigor compromete-se
.comum mente
inúteis
sorvidos num esgar de expurgo
quando a vida se despe.de desejos
des.trançados .entre o real e o aleatório
a voz como prenúncio de um acordar
os aneurismas






monika serkowska







requeiro a in.tolerância dos lugares comuns







quimera esta que aflora o chão
.como beijo
.a boca enche-se de sulcos terrosos e
o modo de lacrimejar a despedida
veste-se de viscos .um calafrio .apenas
.cheio de vertigens que afloram
o solfejar promessas
.as mãos sujas .os pés descalços
.um resto de infinito
na in.tolerância dos lugares comuns
passíveis de restauro porque
a palavra afoga a despedida
como excesso de substâncias que
a véspera concebeu .in.fértil






monika serkowska







enquadra-se o beijo na moldura dos des.ajustes







cedo se cerram fileiras face
ao choque in.esperado do galope
.desenfreado
.dos cavalos a que a respiração
cortou o sobressalto
.restos de corpos acendem o recado e
o tempo passa .inexorável
.dos cavalos a retórica
.dos homens a guerra
.ignominioso gosto que se prolonga
.testemunho rendido à súplica que
ventila o sonho .carnoso
.não interessa
.como declínio res.guardam-se
pedaços de carne .corpos de
boca acesa pelos vermes
que os aquecem .assim
o beijo bem-quisto do
último amolador de facas






monika serkowska







poder pode mas não deve







pode o silêncio ser o
diferente mente
agrafado?
o rasgar a dúvida?
o invulgar mente
aceite
como verdade absoluta?
sentenças escritas na as.simetria do
vazio ou ardis abrigados em envelopes azuis?
relutante ao facilitismo
a palavra esgrime-se .distancia-se
.foge .aproxima-se
.soletra em fuga permanente
.assim o vulgar em calafrio endeusado






monika serkowska







a dúvida e o contraditório







e agora?
que faço da água que me tem escrava do Ser-maré?
do vento-ladrão?
da chuva que em profundo des.acerto
incita o meu regresso ao útero-materno?
vigio a presença do breve
.se escrevo
aponto os dedos para o cursor molhado
.cercam-se os ritmos
.as bátegas conflituam a vigília que
se quer já seca
.até o parêntese .apesar de breve .apesar de
logo se exigir a rendição da chuva
.desisto .melhor assumir a queda de água
como prenúncio
breve de uma razão maior
.um aceitar a borrasca como um bem necessário
.porque não malsão?






monika serkowska







nem tudo são rosas ,Senhor







retrocedo
devagar mente
para valsar a epimania dos Amantes
apócrifos






monika serkowska







a “sua” password foi alterada







ao homiziar os percutores
há que demandar ao absurdo
os expectáveis pontos de resistência
.ninguém é uma simples
equação matemática
.a ninguém se questiona a legitimidade
de Ser-um ritmo de ambições
.o estádio superior do conhecimento
exige movimentos figurados de unicidades
comuns à truania de
por trilhos e veredas
atingir o ponto de não retorno
.torpedear valores
consignados pela inhumana e
gélida metamorfose passa a ser
a password daqueles que
se têm como laudatório de
conflitos ou eutanásia de princípios






monika serkowska







apraz-me o resmungo da noite







é de noite que resmungo
a temperança de me saber escrita
.credível ou não
.tempero de aleurismas
.augúrio de constructos
.é de noite que insinuo
a crispação das cores
como é de noite que tardo
o tempo de renovar o in.tocável
.é de noite que envolta em vário matiz
assinto o passadio do nu e
serva de epifanias
mastigo o som do silêncio
(con)sagrado só para mim






monika serkowska







a hora do lobo







cheguei à hora do lobo
.pedi-lhe por empréstimo a audácia
.a extrema solidão
.abri o peito à teimosia de
me haver em fim de tolerância e
fiz das unhas garras de extermínio
.desprendo os fios que a morte deixou
pendurados à boca do vento
.ousei-me in.sepulta nos dias que
perseguem o meu a-deus
ao tempo das saudades maiores e
quero-me em noite de rescaldos
cansada do
menoscabo das vozes merencórias






monika serkowska






exige-se o expurgo do hoje







é ao som do violino que procuro
a forma de rechaçar o cérebro .de
abri-lo e perceber que o tempo
é a forma conceptual de esgrimir
o amanhã .assentar o barulho
.passar de um modo de cimentar
o equilíbrio das mãos com a paragem
do igual mente exigível
.um pousio não desejado fomenta
o des.interesse .a apatia contradiz
a vontade e os minutos desprendem-se
in.orgânicos .seguros pelas horas e
pelos dias .monótonos
.as vozes circundantes tornam-se
turbulências não desejadas
.nada é mais exigível que o expurgo do
hoje repetido à exaustão






monika serkowska







um des-abraço moribundo







Pietà .a dor de Maria soluça
o des-abraço do filho moribundo
.invade-se a dor no colo de
uma mater amargurada
.os braços distendem-se
num des.apego de morte e
o rosto transige a aceitação de
uma mulher com o de.gelo nos olhos
.já não chora .cansaram-se as fontes
ao debelar o ritmo encenado
de uma vida presa
aos invernos carnais .assim Maria
.a marmórea Pietà
a quem Michelangelo elevou
ao sagrado .a mater-donzela ou
a fêmea-mátria eternizada
no mármore das acres viuvezes






monika serkowska







à proa de um barco imaginário







deambulei ao ritmo alucinante do
vazio à proa de um barco cujo arpoar
me é chegada em tarde plúmbea
.vaticinei fluentes e derrames
ao capricho de um brincar
ao esconde-esconde que ora acolhe
ora rejeita em jogo de resguardos
certa que é na alquimia dos sobressaltos
que me deixo afrontar pelo levante de
ramos e remos cuspidos pela tormenta
.náufragos de um des.fazer cegueiras
assentamo-los mar-adentro
enquanto mar-afora a destruição
arvora gargantas onde a morte arroja






monika serkowska







.4

























[ ... à fabilidade do pre-texto ]
























sobre um chão cravado de improvisos







assim a placidez temperada de
um acrescentar levezas aos coágulos de
pó abandonados sobre as vigas do
meu sossegar mais brando .visgo de
vinho tardo largado
disfarçada mente
sobre o meu corpo muda a voz
turvo o ventre como menosprezo de
um diálogo concebido entre o ruído e
o silêncio .amanhã serei mosaico
se a parede permitir ou ruga se o cetim do
meu vestido sopresar rendilhados
sobre um chão de
ensopar disfarces cravados no
improviso das rasuras






anuchit-sundarakiti







no rescaldo do tempo moribundo







calam-se os choros .apagam-se as vozes e
o chilreio dos pássaros perde-se
na implosão da tormenta .os meninos
esquecem as gargalhadas nas algibeiras dos
casacos e o silêncio regressa após
o estrépito .é o domínio da retoma
.do livre alvitre .no útero da
terra-mãe adormece o conflito e a raiva
.é hora dos sinais se re.agruparem
enquanto o canteiro das peónias
(con)sentido ao fundo do quintal
– re.assume na evidência da sua pequenez
o papel de dignitário






anuchit-sundarakiti







em consistório final







especial mente
hoje em que as horas se arrastam
ao sabor do vento angustio a vontade de
concatenar o despresso da luz
.fecho portas e janelas .as frinchas
espaçam pelas paredes e os cantos
mais recônditos da casa
implodem com a tormenta e os trovões
.o vento é malsofrido .nervoso
.senhor da noite .da manhã .da tarde
.ressoa em demoníaco cercado e
tarda no arrasar os limites
.a turbulência supre o exclusivo
em consistório final






anuchit-sundarakiti







a cumplicidade num estender de mão







gosto de me perder no olhar do cão
.ansiá-lo no estender a pata .alongar
o corpo e ressonar os vivos com olhos
vagamundos .pouso a minha mão
sobre a sua cabeça no mistério cúmplice
de um terno olhar .recolho a mão
enquanto as costas se me despedem
num até logo à guarda da ausência
.entre ambos a simbiose perfeita do
aconchegar a eficácia dos gestos
permitidos .de recebê-los à boca do
(con)sentimento
.eu perco-me na opacidade do atravessar
a tarde em busca de novos andamentos
.o cão lambe as forças conjugáveis de
um estar assim
.mais nós






anuchit-sundarakiti







horas mortas ao serviço do demo







não encontro entre o sossego do cão que
me espreita do outro lado da janela e
o espectro da hora de chorar os vivos
verosimilhança ou arrojo
.um descansa a cabeça sobre as patas
dianteiras como se a vida lhe houvesse
por direito
.um levantar assumido
em gestos simbólicos .um advir ao ritmo
de quem vive tranquilo
.vigílias deixadas ao poente
quando os espectros lançam os dentes
sobre a perfídia crivada por crises de
identidade .abandona o cão a serventia
do impulso
.eu deixo-a conflituar






anuchit-sundarakiti







dias de não-e-não







um velho suicidário e louco
despede-se
dos dias em não .uma mão cheia de
vergônteas sobressai enquanto
no fim da tarde as sombras
revestem os lugares de prece .e
é nestes dias
de não-e-não que as crianças se
modelizam de velhos e
estes de jovens aprendizes
trocadas as voltas à morte .é aqui
neste espaço de vento suão que
sopram laivos de poesia
.trípticos acordes .álgidos cantos
.re.velos de um sobre-viver infante






anuchit-sundarakiti







de.jejum forçado







é aquele o preciso momento
em que a máscara cai .olho-a
.re.coloco-a ou licencio-a?
demite-se através do silêncio
dos seus não-olhos num defraudo
já saudoso  .invade-me o tempo
de desfazer vertigens .com a mão
esquerda des.ordeno-me nos cabelos
de Medusa .abocanham-me
.com a direita esculpo-me em pedra e
algum luto a fim de absorver-me
nas folhas de papel amarrotadas
sobre a cama onde as serpentes dejectam
devagar mente
.tenho pressa de futuro .ergo a máscara e
adapto-a porque o tempo
- deputo de incisão
– insinua-se como galanteio
onde a entrança de.jejua






anuchit-sundarakiti







uma forma outra de recuperar o tempo







não gastes palavras .não soltes os ventos
.cerra as mandíbulas escorrentes os modos
e se amanhã a ilusão for o mote
arroga-a
de prestes
à minudência de uma vaidade falhada ou
a um golpe de mestre alijado ao futuro  
.volta menino ao útero da língua e no
traçado do passo
gravida o engano .o jogo feminino no sentir
palpável discursa por dentro
onde tu demoras
apostado no erro e
transferes a lucidez do ontem para a falácia do
hoje
apegado ao fascínio e à mordaça de Vénus
.volta menino à espada e ao sal .à tatuagem do
tempo e recupera
arrumada a casa
a solidão do nada no voo do falcão






anuchit-sundarakiti







desculpas a menos após erros a mais







por um mar de trocos se engoda
o tempo .se derrama o sangue em
gotas minúsculas e o gesto tenso
fomenta o logro na irreverência
da língua
gastos os modos
.queimam-se desculpas
obedientes às vezes
no calor da tarde em pele de mulher e
se o ardil esquiva o amante
levantam-se os corpos intermediários
da fala
platónico desejo
que a culpa ensombra .talvez o deslace
como fétido enfado






anuchit-sundarakiti







na distância dum novo a-deus







rescaldo de um outro saber o tempo
o ventre escama-se e
os pulsos amarrados às solturas de
um arquejar
venoso
levantam as grilhetas que a língua dos
mortos deixou pendurada na janela
do sol
.vergam-se as vozes sob um comando
manchado de negro e o fogo
comandada a des.ordem
solta faúlhas aos braços de Leviatã
.o ruído
ao voltear a passagem
desarma a distância
brevíssimo elo entre a urdidura e a
morte






anuchit-sundarakiti







assim de.morado o medo







é na cripta da vaga que se afoga o
vento .que o calor abrasa e a voz se
molda de.morado o medo .soltam-se
gritos como panos de fundo e os abutres
em território neutro
tergiversam a voragem .sair é
quase um modo outro de estar mais perto
.o longe assusta ao dividir o tempo e
na cadência
muda de ir
ficando
o medo paralisa o cérebro cego pela ruínas
que servem de morada .há um fechar
de portas .um dividir o tempo ferida a raiz
nas chamas que alucinam .a terra chora a
morte das árvores e os pássaros
sob o céu
vermelho e cinza
do temporal faminto
debicam o útero in.fértil em mar de fogo






anuchit-sundarakiti 








entre a leveza do brado e o uivo do lobo







adormeço-me nos excessos que me
in.quietam demais .pareço-me ave presa
ao labirinto de um olhar entre a
leveza do brado e o uivo do lobo .ando
devagar mente
ao passo dos arcanos e pinto de recados
as minhas vestes solto o espírito
em busca de pousio .resto-me virulência
se o silêncio tarda como rescaldo de um
voraz tributo e aos deuses deixo o sentido
absurdo de um códice como frio que se
instala na minha face
prenha
de cansaço






anuchit-sundarakiti







deixo .ouso .entrego .demoro .lavro .inquieto







deixo o tempo folgar enquanto durmo
encostada ao verso .ouso-o de mãos vazias
em tempo de esventrar metáforas .quieto-
-o
des.dito
sobre um chão de violinos .entrego-o
fragmentado
a nocturnos des.concertos .demoro-o
na melancolia de um acordar depois
e quando
caída a máscara
em parto doloroso
submeto-o ao adorno do rasgo .lavro-o quando
chão
no rigor das horas
.antes
in.quieto-me






anuchit-sundarakiti







urge rasgar parênteses







quietam mais uma vez as palavras
num des.obrigar o sagrado
irmão de uma memória que se quer
devassa .ressonâncias semeiam
a-braços entre profecias .a glória
acorda-se no embuste .sobram plásticos
à cegueira das cátedras e as ruínas
erigidas em barro imortalizam a
excelência dos convénios .o erro obriga
a errância do verso mais-que-perfeito
.o im.perfeito admite-se como adquirido
no perdulário das castas







anuchit-sundarakiti







o soletrar das vogais







é no rasgar a carne como paradigma
da dúvida que abandono
o estigma de um novo efabular
.insisto no território das anástrofes
para esventrar as estrofes como acinte
ao embuste dos jogos .concertados .amanhã
é tempo de colheita .as farpas apontam-se
mais tarde






anuchit-sundarakiti







no inverso das marés-mortas







esperto-me embalada em sílabas
átonas
como se as mesmas degolassem o sentir
.foi assim o princípio do Ser-em-dúvida
cuja matriz se desfez em in.vigilantes
labirintos .devolvo
nua e sem arrojo
num outro escrever a morte
o a-mar dos meus olhos
irmão da mordaça
onde os versos
esventrados
explodem em ressonâncias maduras






anuchit-sundarakiti







epígrafe







é no livro do silêncio
que a palavra se enamora e dissimula



























.1











caras ionut







no zénite do acinte as palavras

artigam o silêncio


( em
trocadilhos dissimulados a ferro & fogo )














casuistica mente ,quietam as palavras







casuistica mente
quietam as palavras
atiradas ao solo como lírios adormecidos
num re.verbar exílios a que o sol
a solo
tenta golpear o signo .restam exílios em
véus de amantes e o mar
adverso à saudade
ombreia olhares na ausência dos ecos fiel
ao naufrágio órfico das musas de papel






anuchit-sundarakiti 








um a-deus marinheiro







a-deus velho marinheiro
escrevinhador de silêncios que nas
ondas concebes uma forma outra de soletrar
o mar .a-deus sorriso largo sombreado na
cartografia das expectativas e nos restos
salgados de uma referência outra .a-deus
parágrafo amante a que o tédio resiste na
nudez e na inquietude dum verso .a vós cujo
segredo tarda o sono dos incautos um até
a-manhã amadurecido em nota de rodapé
.há pressa de partir no resguardo de um
olhar cujo ritual se inscreve no húmus
fétido de um alagar o Ser
.afinal para que servem as palavras?







pavel guzenko







inversão de meios







é na cumplicidade dúplice de um sulco que as rosas e os lírios
se despedem
embriagados pela subversão dos contrários







pavel guzenko