sobrevivência







é na nova geometria do húmus que o Verbo
sobre.vive .veste-se quando as palavras
sabem a sangue e despe-se quando os olhos
se silenciam .então … ousa-se o Serno ritual da
ausência que busca um outro significado para as
palavras sediadas .talvez o limbo seja o ponto
de encontro necessário ao tempo .então …
talvez se possa falar de poesia .ou talvez não
.não são os velhos laudatórios que provocam as
des.ordenanças (con)sagradas .porque o não-Ser
estruturado na defecação geométrica do húmus
final mente
se revela epifânico no desmedro órfico do Caos








pavel guzenko








fruas as janelas adejam a madrugada







fruas as janelas adejam a madrugada num
desassossego onde a distância despede
-se de frases re.visitadas
em sílabas opostas ao segredo de uma música
que de peregrina deixa rastos de púrpura em
exílios forçados .há um coração embriagado
que
de boca em boca
vacila entre a tua ruína e o meu fardo num
anunciar excessos fruto da demanda dos
alquimistas e há
ainda
uma abordagem de excelência no seio de quem
ousa pendular a i.mortalidade






anuchit-sundarakiti







o a-deus aos dias







chegam as matinas em orvalho de fino
trato .as manhãs são castas .as tardes
tardam e as noites resistem ao olhar adiado pelo sono







pavel guzenko







a perenidade da dúvida







é no defeso singular de um arrastar sibilos
que as mãos se enganam em precária e
conflituante tensão .dissimulam-se ora
famintas ora veladas num esquecer ariscos
.rendem-se ao amor .envolvem-se num acoitar
de corpos .devem-se no pautar o beijo .esquivam-
-se e no gravar o combate entre a inquietude
e a errância acomodam-se num prolongar as
horas dedicadas aos a-deuses esgotados
.esquivam-se em resiliências cultivadas .talvez
demais







pavel guzenko







singulares pre-textos







ao acaso se lançam velas
como pre-textos de um renovar as marés em beijos
.confessos






pavel guzenko







raivas e des.arrumos







há uma profusão de raivas que acrescem
des.arrumos em notas de fino trato .gastam
-se num entendimento disforme .acomodam
-se em enganos ou perdem-se num mar
de silêncios .são os lugares-comuns face
à serenidade do voo do melro que lhes
alimenta o sono certa a hora de
mendigar a ternura de um beijo .só então
gravado o gosto pela nudez se
volatizam os Egos
in.opinados pelo gongorismo das mãos que
arrastam consigo o universo dos corpos
bailarinos .amoroso tempo de devolução
de silentes memórias






pavel guzenko







dignitas







outras vezes
cansadas da excelência dos contágios
as palavras des.arrumam
fogem de convénios e mordem






pavel guzenko







palavras premiadas







às vezes as palavras vestem-se de negro e
disfóricas despem-se de escárnio ou vestem-
-se de maldizer para galoparem no lado
contrário das folhas ímpares .ousam cantos ou
silenciam-se .formatam-se em enganadoras
genialidades ou disparam céleres em gírias de
auto-convencimentos e quando bruto se torna
o afagar do dia roem as unhas .enterram-se
na lama ou sufragam causas que não aquecem
nem arrefecem .são as híbridas pitonisas de um
con.sagrar afonismos laureados por um primus
inter pares






pavel guzenko







na geometria do húmus







rédito de um desejo cáustico
a escrita
quando prolífera
precisa-se na geometria do húmus






pavel guzenko







na in.falibilidade do não-ser-texto







é na in.fabilidade do não-ser-texto que
mergulho no lirismo dos
verbos
fiel ao reverso das invocações que
me fascinam .elejo em alma cantante
a diferença e faço do sortilégio dos
antagonismos o espelho dos escritores
mal.ditos .deles herdei a cumplicidade
fraterna de um difícil sorriso para
em celebração
no dia final
erguer a taça à poesia
- afrodisíaco sinónimo do Ser-con-texto






anuchit-sundarakiti







.3

























a in.fabilidade do não-ser-texto ... ]
























.2







(…)
Hoje, passada a madrugada, continuei o dia com a minha parte mais sombria; soltaram-se-me as minhas recordações, presentes, passadas e futuras, e não encontrava caminho linear entre elas.
Não só importa escrever sucessivamente, mas saber quem me sucederá numa constelação de sentidos.
O que é a descendência?
A seiva sobe e desce numa árvore, estende-se pelos ramos, e é regulada pelas estações; eu e a árvore dispomo-nos uma para a outra, num lugar por nomear. Este lugar não tem significação de dicionário, não transmigrou para nenhum livro.
Agora o sol, o solo, a solo, encadeiam-me nas palavras      Esta madrugada aproximei-me da certeza de que o texto era um ser.

Llansol, Maria Gabriela, um falcão no punho -
Diário I, Lisboa: Edições Rolim, 1985.







apoplexia







é no denodo da escrita humoso capricho
de uma poesia redonda que o velho des.faz
o apelo do verso .deixa-o marinar em morte
lenta .aguça-lhe o mote .a rima .o ritmo
.esgota-se na perfeição da frase rente ao
lugar de um fazer de conta e se o in.certo
e o diferente lhe servem de engodo esconde-
-se enquanto novo .bica com alfinetes-de-
-dama a cartografia humana aquecida em
lume brando e deixa-se exaurir na opacidade
mordaz de graves e cruéis ditongos .troça
envenena e debulha a dança da não aceitação
.foge do fácil .do cinzento .da lama e aquece-
-se no re.invento de um verso cínico há muito
superado pelo golpe do seu próprio algoz






pavel guzenko







ocasos







restam os ocasos se acaso
a in.diferença das horas-vivas
in.quietar o universo dos signos







pavel guzenko







redil







expulsam-se os sinais no espaçamento
fragmentado do silêncio .ousam-se em
galope feroz na vigília da montada
quando o rigor do canto se reduz à mudez
inicial .são os lobos cordeiros mansos no
redil do medo .são rugas prescritas pelos
dedos em riste .senhores do nada criam-
-se nas sombras como vultos colados ao
tempo dos adornos e submissos revelam
os contornos dos corpos condensados na
tibieza do templo
brincam as palavras com o sentido e sem
sentido soltam-se da água-viva de uma
rosácea






pavel guzenko







sinais in.visíveis







ao lado do esquecimento maior
de manso
o poeta esgrime o beijo o mar o fogo
no aplauso de um acorde in.certo






pavel guzenko







heteronímia







erram os passos como excessos .de inteligentes
seguidores de ódios .brutos .nus .espinhos ou
garras apostados no desprezo de quem faz da
matilha adorno adocicado de pousio .ironia
rasca .prepotência aquecida no dorso do irmão
de sangue .muro viscoso .discurso fácil apodrecido
na voz do lixo como restos de um caminhar
em campo na leveza do vazio .as rugas como
parto transgridem a noção do juízo final .assim
errantes
os perdedores
restam-se como heterónimos do silêncio






pavel guzenko







puro engano







não insistam no tempo das ardências
.Jabril amacia das anástrofes o regresso
no sonambulismo re.vestido a morte






pavel guzenko







despidos os cardos







na boca do tempo há uma secura
que mata quando se sujam os
panos .se despem os cardos .se abusam
as mulheres na cegueira miserável dum
apostar o ódio .e da matilha desenhada a
ponto-cruz adorna-se a pequenez selvagem do
cinismo .é no lixo que o silêncio se compra
ferrado o antídoto .cegam os olhos
.resvalam as cabras na subida do monte
enquanto o resto
- despida a vergonha -
mora no lado negro do esquecimento






pavel guzenko







perdidos os sinais







um acertar o largo na maciez
do pouso se a jornada pesar no juízo
dos lobos afaimados






pavel guzenko







a velhez







tão anestesiante quanto a sombra a velhez
cobra .somos meras
gargalhadas tresmalhadas dum Sercalado






pavel guzenko







modus operandi







é no acordar para a noite que a tristeza
se veste de vermelho-rubro .verseja
no encadear das espécies que adstritas ao
escárnio deixam o maldizer como requerente
apetecível .um golpear a solidão num altar
de fogo torna-se o lugar comum de um texto
cuja credibilidade se tem como admitida
.há um presságio de morte na escrita dos
arcanos .um sereno desejo de renúncia ao
Verbo para então
no escarninho da manhã
adoçar o modus operandi no a manhe-Ser de
velhas complacências






pavel guzenko







tempus fugit







o tempo que se quer não transitório
foge como um simples instrumento de corte
resistente ao pó






pavel guzenko







a fuga







abandonar
o sobressalto equidistante
ao reflexo do húmus .depois .só
depois a denúncia da fuga .o
engolir a lágrima no mastigar o
pão acesa a impotência de um
voltar atrás .ao tempo das letras
emprestadas .do periférico como
saudade desenhada a giz .um fugir
ao des.conforto das horas mortas
com os dedos estendidos à navalha
.lá fora jaz o agravo dos mortos-vivos
sob a complacência dos impotentes
.um pouco mais de Ser exige-se
no entendimento entre os homens
e os bichos






pavel guzenko







.4

























tempus fugit ]
























mudança de linha







assinto de malquerença o despojar
refugos sob os pés .debulhos afagados
pelo delírio das aves .o tempo foge em
metálicas madrugadas inscrito no
desassossego
das despedidas e a vida passa a um cesto
de omissões se os sonhos se arrumam
junto à terra de ninguém ou se se deixam
comer ao arrepio dos ossos
.pairam ardis de graça sobre os abismos
.dos gestos
a não capitulação de um barco de papel






luigi pellanda







virar de página







assim o delírio das servidões maiores
vacilando entre o bruto o absurdo e a vergonha
.um Ser-cáustico a corromper memórias
assistidas pelas artérias do grito






luigi pellanda