a dança dos loucos







amanhã é tarde demais
para enterrar as palavras .intima-se
um pedido de desculpa .somos demasiado
loucos
para entender a dança dos parágrafos .depois
só a negação dos acordes
.a espera como momice






caras ionut







o jogo das horas mortas







o jogo tarda .as palavras iniciam a
dança das opacidades e o luto arrasta-se
pelo tecido dos enredos .consumidos
em desmando os sonhos escondem-se dentro
da placenta da escrita e o parto
assumido como verdade
desce ao silêncio das horas .nados-mortos
.impasses re.tardados .sentimentos
vagos
adiados entre a tolerância e a loucura
são resíduos de uma intimidade que o
Poeta
como sono vaginal
inscreve no in.certo .é hora de partir






caras ionut







entre modos e modilhos







quanto medo na mentira que afoga o
sentido do absurdo .esterilizado como
a farpa que se lhe aponta .o golpe
talvez certeiro oscila entre os papéis
as palavras e os motes .esquecidos
sobre a secretária
mudos e
castos
aguardam o instante de saltar para o
écran do computador que os namora
há muito .há um colapso imaginário
gélido e
ácido
instalado no eco das frases que se
apegam ao papel .o salto impõe-se e
o excesso da loucura manifesta-se no
momento em que as folhas
ir.reconhecíveis
iniciam o bailado dos excessos






caras ionut







na medida do possível







tão manso quanto o ir.reversível
serve-se o caminho de lonjuras
insones .estão cansadas as veredas e
o desalinho dos rostos é indício
de afronta .da viagem sobram resguardos
.apelos .rumores e laivos largados
a monte
pelo desmedro que as farpas atentaram
no meião da ausência
.assim temeratos
mas não óbvios
lavram-se os códices a quartilho






caras ionut







demito-me







eu não faço .não digo .não ouso
quebrar o ritmo
lento
da tua voz .em transgressão
permito-a verbalizar e
no abandono de um fácil ressalvar
de tempos atenho-a em apêndices
avessos à realidade .moldo-a na
destruição metafórica do modo
assaz inclusa
no compromisso de uma litania pronta
a amusgar o intocável






caras ionut







sem pestanejar de tédio







em morte lenta o córtex assume-se
como um mapa de convulsas variáveis
.oscila na proximidade de um tombo e
deixa-se desabitar
sem sobressalto
por amansos in.imagináveis .marina em
tempo de devastações maiores e eu sinto-
-o endoidar entre a raiva e o tédio
.vasculo as assimetrias rasantes e antes
de sufragar o refego do método re.formulo
a tendência para a nudez do verso que
me segura no instante
em que a árvore
pendular
permitiu que o vento lhe servisse
de agasalho






caras ionut







adormecida no torvelinho dos sonhos







amanhã um outro sol tecerá refegos no
domínio das Parcas e a arte de esculpir o
não baixará sobre as minhas mãos
.então folgarei o deguste das amoras no
instante em que o rastilho dos apegos
loteará as coisas mais simples incineradas
pelas minhas alucinações .tornar-me-ei escrava
de uma crispação maior e o eco dos sons
martelará na minha cabeça onde os
hieróglifos cumprirão o seu dever de escribas
.cobrirei de rosas os cardos remansados e
que teimam perpetuar o caos em antagónicas
preposições .expectante de um antevejo de
memórias ir.relevantes
ousarei nortear-me pelo ritmo das horas
pagãs
antes dos loureiros me diagnosticarem
uma precoce demência 






caras ionut







a arte de escrever em não







ousam-se as líricas na in.sanidade
dos arcanos e eu
deliro-me no pousio dos ecos .o Verbo
por equivalência
omite-se no naufrágio das vagas






caras ionut







causa e efeito







em mistérios insondáveis arquiva-se
um outro vínculo à guarda da voz .talvez
assim me seja possível imaginar o vagamundo
que no meu colo colhe vergônteas ou o
romeiro que teima em ensinar-me um modo
diferente de re.colher a sombra das árvores
anãs .sim .há uma pequeníssima árvore cosida
à bainha da minha saia .dela se soltam ramos
que se estendem como braços ao encontro do
silêncio onde os retratos cravados em pelica
se colam
devagar mente
ouso-me em passos de filantropia .ninguém me
espera em fim de linha .só os ecos .remendos
murmurados com que interrompo o tempo de
pensar
obliqua mente
.afasto-me dos frutos maduros a fim de omitir
a arte de naufragar e na reclusão de uma tarde
de vigia aqueço as mãos no labirinto das
narrativas expectantes .como causa .não como
defeito






caras ionut







talvez depois







depois os gestos apagam a equivalência
dos sonhos
.a ambiguidade induz-nos .somos mortais
.o a-deus
irmão dos traços breves
espera-nos na colina dos levedos vinculados
.somos breves .sabemo-lo
mas
toscos
cerramos os olhos aos avisos .talvez após
o colapso
quando degolados pelas premissas do tempo
ousemos
tomar consciência
dos lugares vazios






caras ionut







resguardo de adjectivação







sub-marginal a ardência que me quer
felina .sobejo de atrito .tenso e breve
recurso ao gesto que se deseja nu se
as palavras
escorrentes
se alapam nas costas da cadeira do
quarto azul .irreal
mente calcorreio o nomeável a fim de
des.armar o discurso para dentro .o de
fora é jogo de mar revolto onde os
titãs aguardam a sua vez de agigantar
 .tudo não é senão aparências no memorável
encontro da razão .palpável escravitude de um
tempo de ser não sendo .e neste afinar
de esqueletos sub.escrevo a vermelho
na impotência do des.amor
o sangue de uma mãe a ser de passagem
.de um jovem a gazear o rosto entre os cotos
e do velho que no mar do sul reserva a cegueira
dos seus olhos vagos .vou
assim traçada e mareante de logros
esquecer nas memórias as
revoltas do futuro






caras ionut







equivalências







e é no vento que retomo a casa que deixei
presa ao frio enquanto o calor tardou o
degelo .sei-a vazia por fora .por dentro
um mar de assombros esconde
na des.ordem
o mistério de antanho .a escrita sobe as
escadas .abre a porta do quarto e deita-se
na cama coberta pela mais estranha in.sanitude
.recorre ao memorável
curvada entre a aparência do breve e o recorrente
.nada parece interessar às palavras que se unem
ao acaso .na fúria do contágio .num significante
anseio .presunção de um gesto de.corrente que
afoga no implícito a contracção da sua mortal
idade .o explícito aguarda na ante-câmara o recurso
ao in.desejável .e neste jogo
de aparências virtuais
o vento circula
impiedoso
entre o golpe do génio e a serventia do
equívoco






caras ionut







cantar de fresco







é na bola redonda do nada que inscrevo
um modo outro de tecer a renda .substraio
o deleite de mergulhar os dedos na tinta
e avermelhar os contornos de um cantar
de fresco .o dia atravessa a noite e na minha
mente
calados os versos
agravam-se as cópulas de um singular
agrado .arde-me o corpo no crepitar do
amor .rasgo-o e afasto-me para melhor me
haver na terra do sim .dos livros capitulares
acentua-se o esquecimento como sulco de um
admitir as distâncias .cegas .cego-me .visto-
-me .dispo-me e chego .trago nas algibeiras
um avivar de cinzas e
na calada do tempo
rasgo a pedra .venerável .acendo o agravo e
com os pés cozidos
por dentro pelo cansaço
afasto a poalha a fim de prosseguir a órfica
viagem .decanto o rosto presa à im.paciência
de acentuar a nudez 






caras ionut