no declínio das aparências







esbulhos filtrados em águas
turvas resgatados pelo encontro
férvido entre a palavra e o verbo
.como glosa argêntea dum re.inventar
a-deuses ao limite das doações menores
.esperam-se em textuais a-braços
registos aparentes de um semi-deus
em amorável fascínio .talvez subverso
afago em cavo declínio ou es.corrente
deleite de esqueletos camuflados dentro
de armários






luigi pellanda







regresso amanhã para re.escrever o futuro







depois virá o tempo das vigílias
.dos regaços in.temporais quando devassada
a hora .o ventre amarga a remissão do carrasco
face à selecta do vagamundo






luigi pellanda







rente ao traço do a-deus







plácito o tríptico a-deus
ao vento à chuva ao ajuste temporário
segundo a equivalência e o naufrágio
pasto ou silvo de aguçar regressos
.quiseram-se as águas nas pausas e
no açude des.colorido pelo mate quando
um póstumo vocábulo se ergueu felino
.há muito que se exigia
a passagem .afásica .no surrealismo de
um canteiro de mirtilos
rente ao traço grácil de um verbo
fragmentado por um sofrido partir
.aquém dúctil o desespero
tido como rendição de preces






luigi pellanda







a arte de conjurar o silêncio







de a-mornar
a traça ao agasalhar o beijo .ávido de
esconjuros .assim o silêncio .tarda a modorra






luigi pellanda







devagar mente um a-deus ao Inverno molhado







em compasso de não
o primeiro sinal de sol desafia
a vertigem capitular da terra
em de.molha cerrada .chove 
no apagar o dia .no acender a noite
.no sobressalto do mar como depuração
de vagas ou gente sofrida .e o cinzento
enjeita a razão que se despede
em envelope selado
.é este o capítulo cruzado
no beijo dos anjos
despedido o Inverno
.Leviatã aquece o vinho
esventrado
o mistério do tempo que
teima em tributar a chuva 






luigi pellanda







omitida a acção de ser … um poema (COM)sentido







deslize amistoso esculpe a face
estacionada à margem
enquanto
a pálpebra se redime
no desvario do transe semi-divino






luigi pellanda







Lady Macbeth







ironia de um poema
reservado ao des.coser da tarde
tendo o ruído como fundo
.exige-se como um lençol de
begónias onde os pássaros se
enrolam como loucos .há um
riso para além do trágico
como palco sepulcral do etéreo
porque alguém ousou interpolar
a claridade que morre lá fora
.talvez Lady Macbeth cravado
o punhal no significado das culpas
haja afiançado os pássaros que
na ambição dos falsos agravos
resistem à penhora dos escrúpulos






luigi pellanda







ainda a chuva .ou talvez não







recolhe-se a conveniência dos olvidos
na cupidez de um aquoso intento
.abusivo senho?






luigi pellanda







o jogo das palavras difíceis







a cabeça
tornou-se uma enorme bola em transição
quando des.apossada de pensamento
.lerdo o corpo provocou um acentuado
declínio fruto do estruturalismo das
antagónicas metáforas .do atonismo
de projectos estropiados ou em caprichos e
estrugimentos o rosto espelha o
des.amor de noites e dias des.amistados
em exaustões e des.agravos
.in extremis o desajoujo acéfalo re.assume a
posição de controlo encanando o in.visível
no estrujo da ascese






luigi pellanda







uma nota de aquoso solfejo







em retábulos poéticos de fino cariz
medra a lucidez
- ascética e cáustica -
no refúgio do vento pagão ou em barca de sôfrego-a-mar






luigi pellanda







tanta chuva







ainda
há quem polvilhe pingos de sol
no estribilho da chuva






luigi pellanda







a humildade do último baile de máscaras







na lombada de um livro
ensaia-se o último baile de máscaras
.palmam-se grifos em páginas e
em cada folha colhem-se ramos e ramos de
orquídeas negras .ressalvos de
sedução são deixados sob a nota virada
a sul já que a norte a vulgarização
da linguagem saudará as laudas dos
posfácios .as badanas servirão de
harpa às recensões e as anástrofes que
darão forma ao miolo
engrossarão a purga dos poemas
macerados por pinceladas geniais






luigi pellanda







ao ritmo lento do sol de inverno







é pouca a vontade de des.fadigar o estio
.ao contrário da sombra a árvore é pousada






luigi pellanda







carpidor de frutos







é forçoso plantar amigos ao
longo do caminho .da dor in.sepulta
que foi mágoa levantar
num allegro ma non tropo
a brejeirice de um nocturno
cujo contacto seguimos ou abandonamos
conforme a placidez que adormece
.há fome de novas moradas quando
qual mísero ponto
apostamo-nos a negociar
o valor das aguadilhas ou
o som dos instrumentos que
adquirimos como inquilinos de certas
orfandades .amanhã quando nos
soubermos de novo fruto maduro
é necessário fechar o livro e encostar
o violino à sombra de um vaga-lume






luigi pellanda







epígrafe







tarde ,tardinha as palavras acasalam e 
o voo do falcão sente-o ,folgada a madrugada


























.1











anuchit-sundarakiti







casuistica mente ,quietam as palavras


[ no solo o sol soletra a solo ]



( fruas as janelas adejam a madrugada  )










sobreviver ao futuro







não é fácil quietar o medo
à sombra do volúvel
.um corte de névoa insurge-se
entre resistências e ultimatos
com sede de rasar o futuro






luigi pellanda







a capitulação cerebral







incurioso o prognóstico dos deuses
no padrão ferrado dos mortais
.o vazio preenche o vão que se
induz na cabeça e os ouvidos
distraem-se na conflitualidade
dos sons que se misturam aos ruídos
.há uma agonia tangível e
o cérebro qualifica .insurge-se num hiato de
horas minutos e segundos .uma noite e
um dia até que o desassossego
inventa um óbito ao tremor que
tenta suturar dúvidas
.entendê-las .quietá-las .torna-se escorrente
a linha da razoabilidade e a angústia
subsiste entre o saber e
o medo escravizado pela razão que
assiste ao diagnóstico
.a quem seduz o erro?






luigi pellanda







renúncia ou desvario?







assim se moraliza o acordar
precoce
das amoras silvestres
.porque não em túrgidas palavras se a terra
renuncia ao excesso em queda não anunciada?






luigi pellanda







confidência







nunca foi tão dúplice este atravessar o tempo
quando nos assumimos inteiros no
paradigma do Ser-em confissão
.sem agravo .remetidos ao sublime abono de
uma Fiama que tutela a in.transigência ao fácil
.rendidos à transição de uma Gabriela Llansol
na evocação de um persecutório referente
.invocamo-las
em constante des.acerto .delas absorvemos a causa e
o efeito numa abstinência exangue ao evidente
.dissecamo-las
em consonância ao resgaste
de quem no ventre da escrita gravita o desafio
como reduto final
.gastamo-las






luigi pellanda







.3

























carpe diem ]
























.2







PARA AS PARCAS

Pra mim, um só estio, Potestades,
e um só outono de canções maduras,
e, satisfeito desse doce jogo,
meu coração apronta-se a morrer.
A alma que em vida não servira às leis
divinas no Orco não repousará;
mas surgindo o sagrado, que me habita
o coração, sucede-me a Poesia:
bem-vindo sejas, ó sombrio reino!
Irei alegre, embora a minha lira
não me acompanhe. Mas por uma vez
vivera eu como os deuses. E isto basta.

BOM ALVITRE

Tens engenho e arte? Mostra apenas um.
Condenam ambos, se aparecem juntos.

_Friedrich Hölderlin (1770 – 1843):








epígrafe







o corpo como matéria in.inteligível 
legitima-se em cáusticas voragens .suave a queda


























.1











luigi pellanda







o Ser na geometria do húmus


[ casos e ocasos ao acaso ]



ressalvos com sede de ficar )










absurdo







outrossim a angústia .a treva tecida na espuma
semântica de um a-deus depois .tríptico desejo
de acrescer os vermes às letras e estas às palavras
num carpir a morte .rasga-se o ventre do réptil e
assume-se o voo do falcão como fadário de um
pranto .face à órbitra triangular da terra admite-se
o sol como signatário de um fazer de conta tão
absurdo quanto o universo dos signos glosado ao
sabor do repetível e assumido aquém do vento






monika serkowska







in.versos







versos cansados na im.perfeição do ser
inverso .talvez verso diferente .outrossim
saia bordada cercada de peixes que
ousam  a-mar o mar .do rio ausente
em concha que a mão fecha espalham as
frases ao gosto reservado dos excessos
.desdenham a gratidão erigida sem sentido
de humor e riem-se do nevoeiro coagulado
em disfarçadas benevolências .são mudos e
surdos .improvisam-se em salmos .escravizam-se
em eflúvios e no excesso do gozo curvam
o ventre perante um par de asas sem sentido
.são mosaicos aleatórios .os versos






monika serkowska







fariseus







o jogo da terra queimada adoça os fariseus
.estala-lhes a garganta e os ossos .esgotados
os modelos admitem-se na arrogância de
um saber de.volvido em contradição
.amamentam-se na baba dos anjos e assentam-se
em afectos serôdios a que o mofo na pestilência
demoníaca dos equívocos titula como caixas
de ressonância







monika serkowska







alvitre







um a-deus sibilino sem vergonha
e mordaça tão o agora no verso
aquilino se en.vergado o embaraço
com que o juízo se despede .a-manhã
é festejo de pássaros e anjos






monika serkowska







cavalgada







menino ou memória .rival da corte
ao des.agravo do mestre na cavalgada
diurna .rende-se o monge e o erro
engrossa a morada in.segura .o melro
sagrada a origem explode no ramo
da árvore indicadora do fim .cavalga o
sigilo moribundo o griso se no escasso
instante o menino escreve a boca da
fonte .e a raiva acontece quando se cala
a surdez






monika serkowska







embriaguez







adverte-se o vento à chegada do poeta
sibilando mortes e paralisias ácidas
.descose o tempo feridas outras .vassalo
sem escudo .irmão em segredo .sem
sentido o corte .sem rimas e métricas o
poeta declina do verso o cansaço .opalinas
várias vestida a nudez .singular mente fértil
cola-se o gesto admitido o amante .hipnose
narrada em exílio cavado quando nado o
poema o poeta partiu .o mar esgalha .o mar
embriaga forçado o abalo






monika serkowska







claridade







se se quiser ajustar o tempo numa agudez
de conflitos revezam-se as marés cimentando
glosas num voltear de novo .esclarece-se o
motim em terra semeada .ajusta-se o a-braço
de Satã num afagar de estilhaços .tão doce
o regresso .o partir em demanda .tão casto
o amor do poeta esquecido o nome .as.sentado
o pó na claridade in.vertida







monika serkowska







sementes







de novo o vento onde o longe se inscreve
e os ossos se quebram sob o peso do sangue
.anunciam-se excessos e os fardos adversas
as silepses passam de mão em mão numa
excelência a inocentar o vento .é a ausência
do sim .a terra sufragada onde o nunca se
sagra .a adultez anunciada à i.mortal.idade
.as memórias quando amordaçadas semeiam
restos em excesso e o eterno é puro engano
quando degolado o agora






monika serkowska







rasgos







um sossego peregrino fala de distâncias
em frases dormentes .cortes que a maresia
emancipa e o vento opina rendido a novas
magias .o rasgo intervala e o vento opõe-se
ao exílio forçada a metáfora .há um
significado sob um monte de ruínas adversa
à silepse que se inscreve no véu dos amantes
.rasgam-se omissões em bocas re.tardadas à
alquimia dos cantos






monika serkowska







regaços







circunscrevem-se afinidades às memórias
bicéfalas se a saudade e o vento deixam de
si rasgos rasantes .assim se cobre a nudez
do tempo .assim se abandonam as vestes
despidas de opacidades .o vento trá-las ao
encontro do silêncio conversado em rendições
de sombras es.cavadas durante a noite em
in.tolerantes regaços






monika serkowska







tardanças







abreviada a pergunta se a ironia exigir
a ardência volátil do estar aqui .um
rotular rançoso .um re.voltar enquistado
no escalar a chuva
para o dia seguinte .um esventrar do chão
o gemido dos dedos e o sangrar dos
versos nas bocas mordazes entristece a
memória .pisada a fúria na vala comum
esmorece a lágrima quando selada a viagem






monika serkowska







barbaridade







alguém inverteu o sentido do verso
.assentou a vertigem .o contrário é
predicado .o negro a face do sonho
.a palavra despe-se .afirma-se
quanto o obituário de quem
assim escreve .acaso a poesia? prosaica
vaidade .dejectos de louros
e os pobres soldados da norma partidos
deixam-se ficar à margem do
lago quando os bárbaros invadem a
dualidade do Ser
.restos alquímicos não desejados






monika serkowska







explosão







de passo em passo .de sorriso vadio
no instinto do medo .cansa-se a mão
se o golpe for fundo .da nau a viagem
ou o preço do não .olham-se os gansos
quando as aves voam .cansam-se os
cardos quando a treva retoiça no
colo do tempo .e o livro esquecido
arrasta consigo um olhar mutante
se o pasmo cingir um lamento vão






monika serkowska







reservas







a-manhã é tempo de verter as águas
.de soldar os frios em mantas de neve
quando a lavoura e o campo se vestem
de branco .amargam folhagens no
abrir dos dias e o punho da gente
laborado o centeio imagina no agravo
um novo combate .é tempo de honra se
o vento acalmar .mais longe o já perto
cansa o arado e o prego da fome acende
o gosto de colher des.agravos
.reserva o perto um a-deus tão magro







monika serkowska







esconjuros







apartado o gosto de saborear a metáfora
é vê-la moldada à prosa vertida em copo
de vinho .o dom cultivado no culto
adensa a semente .compromete as árvores
e violenta os punhais .adoçam-se motejos
.pacificam-se vontades .identificam-se mundos
num nós que sou eu .peditórios a mais para o
mesmo fim onde a falsa modéstia se veste
com o orgulho do outro .no chão do contrário
esgrime-se o sim .exorcizam-se suspeitas
num cortar pela raiz o fruto serôdio .um
gosto ácido vincula o futuro






monika serkowska







folguedos







assim quisera baratear o sonho .o
gozo temperado com sais marinheiros
.circunstante o modo de alvitrar os ecos
quedados os a-braços nos gestos e nos
sensos .as moças das violências apartadas
deixaram cerzir ramagens nas saias e os
moços avinagrados os modos rodaram
sozinhos ao sabor do vento .ficou-lhes o
eco no a-deus moribundo .na agonia
soldaram paraplégicos aplausos e juntos
folgaram a antecedência da morte em
panfletos oxidados em falsas modéstias






monika serkowska







mocidade p







quando a tosse irrompe pelo verso
a-dentro há uma presa fácil no gorjear
do canto .assim os meninos no coro
sentados as mãos levantadas e os
braços estendidos .alimentam-se as
garras com iluminuras baratas e o
anseio de vida é língua carpida em
ais e solfejos .ninguém vocifera no
arengar sustentos .ninguém vislumbra
o arquear do desdém
.o erro é o senhor da página






monika serkowska







negação







decanto de verso no sublimar o ajuste
quando o verbal articula a escrita no
desejo permissivo de advogar o fácil
.o moço irrompe o julgamento sentado
no bloco de notas advindo o perfil e
o livro não lido arroga o direito de
exigir do cego o justo calibre .assim o
modelo de absorver a revolta






monika serkowska







tempo







devagar o silêncio interrompe o e.nojo
.quebra a falência .demora o martírio
.vigília sonhada no restauro do verso
.no plasma .na verdade cruenta de um
livro .paraplégicos os prémios em
genial rodada .aplausos .metáforas
gongóricas ao sabor do génio .e a renda
vendida a retalho na falsa modéstia
varre o não senso .o bafo que em peditório
medalha tão só os “compagnons de route
.estendem-se as garras .aguça-se o machado
em apoteose .e o tempo como senhor
absoluto vê e sorri
.o mais é só pó 






monika serkowska







poesia







exigem-se os versos ajustada a pauta
ao murmúrio ao choro à tristeza ao
amor .pressente-se o não permitido no
desejo de mutilar a presa .re.volta a
palavra no ajuste prosaico e o fácil
demora no vender o livro .ajustam-se
as facas ao poder dos versos .dos beijos
.de leituras outras que a poesia permite
ao bloco de notas
.são duplos sentidos
.não erros homologados






monika serkowska







sorriso







quisera madruga na tarde que engrossa
a onda do mar a asa e a flor .quisera a
frescura vingar o calor .um sorriso de
Inverno queimado no rosto .um suspiro
vago que a tristeza é partida chegado o
momento de parir o a-deus .perdem-se
as crostas .os ossos de.moram no uso
perdulário de ressuscitar o sono .quisera
outro tanto minorar o sorriso no ranger
dos dentes .anúncio de vida esquecido o
presente






monika serkowska







delito







meninos aquosos são rasgos
de vento desistências pródigas
ou punhais emprestados .o valor
da vida comove a madrasta que
sorve o proveito na fonte e no
leito .um seco acordar memórias
grifadas em furtivos embaraços que
o beijo aceitou .uma morte inteira
com brilho e sem graxa porque o
sapato vadiou o desprezo e o muro
da frente calou no galope o delito
da carne






monika serkowska







vereda







retoma a água o caminho da rua ao
tentar mais forte o bater no chão .o
canto triunfa o domínio dos mortos
carpidos os montes baixados os vales
.no fundo a vereda .um posto de
abrigo aos olhos do tempo ou o cego
vislumbre no tosquiar a noite .castigo
exigido à porta da sorte deixada
aberta ao heroísmo gratuito .o muro
dissolve a ardência barata e o cabelo
es.corre como arame farpado ao sabor
do engano






monika serkowska







enojo







des.laçam angústias baptizadas as linhas
de um ajuizar primeiro .e.nojos que sobram
no deslize do olhar .a nuvem cedeu o lugar
carmim à chuva que bate na porta da frente
.no voltar a página .no barrar do caminho o
esgrimir lideranças num caminhar já breve
.exigências de casto no golpear a deriva
.assim o lastro do vento fechado .assim o medo
circunspecta a forma de tardar o logo
.prosaica tragédia no degradar o assinto






monika serkowska







.4

























[ em e.nojos de renda ]
























mãe-madrasta







escárnios a mais com definições a menos
na exuberância do golpe a-braçado à poeira
que teima em ajoujar a mulher jardineira
.engasgue pródigo num assumir convulsões ou
in.visíveis rebanhos na fúria dos contos .assim
o açaime largado ao galope .miragem e
assombro que traduzem o logro duma mãe
madrasta no beijo do filho .serve-se o vinho
em copos vazios e na ardência in.suspeita dum
até logo geram-se conflitos a perpetuar
militâncias
.fecham-se as portas ao ranger dos dentes







juana romani







secura







a descida esgrime-se num olhar peregrino
gongórica a manhã a esgrimir o caminho
.despem-se os cardos e Lucifer agradece
quando Jabril re.verte o obituário primeiro
.são tristes os tristes ao partir no engano
de um resto de página escrita ao revés .neste
lugar de agora esquecem-se as nuvens e
ameaçam-se os deuses dentro do vento que
passou por aqui
.secam-se as fontes corroído o verniz
.descascam-se as árvores do musgo já seco






juana romani







choro







soltam-se os cabelos como estátuas de sal
filigranas moldadas no fio dos punhais e o
pensamento apertado entre as mãos que o
oprimem desmembra-se em novelos de
intimidades perdidas .salva-se a ideia .des-
membra-se o tempo e o des.gosto que dorme
no ventre in.fértil borda a saudade em vez
de chorar .aparta-se a carta .o livro arrefece






juana romani







disfarce







assombram-se os homens quando as
mulheres sub-vivem o jogo da vida
ir.reverente a morte .acaso a fome em
tudo continua se o disfarce se tolda na
saudade acrescida? que dizer do menos
se o mais se perde? se cospe e se omite
no a-manhã dos a.casos?
o desmembrar dos soluços é tudo o que
resta .as palavras não tapam o buraco
do medo






juana romani







parto







absolve-se a nascente .dissolve-se a deriva
quando o degredo se esconde no a-braço
da noite .há um a-deus menino que queima
no nervo a vaidade sozinha .e o vento (con)
sente o capítulo final .despem-se os náufragos
enviuvado o levante em tempestade exigida
ou remorso tardado .um pouco de sol no
pontapé do tempo disfarça a revelia de um
agarrar o perto






juana romani







jogo







violácio o cisco arredonda a saudade
merencória tardança de um queixume
indolente .exige o lugar um afecto
mais logo .quase litania no abreviar
a cegueira .o corpo alonga-se num
cruzar de perna tão breve quanto o
rasgo da mão que se estende .busca-se
o beijo num dizer que não e o sim
responde até a-manhã .se o coro das
feras envaidece o ventre há um
obituário exímio que pastoreia o túmulo
como a estátua de sal no jogo da fome






juana romani