instinto







jazigo de pasmo o silêncio exige e o
engasgue reserva a aflição para depois
.depois ninguém balança o fundo das
costas entre os golpes do mestre cismado
o absorvo .um rasgo de sépia exige-se no
rosto macerado dum sujeito ir.real .o golpe
prescreve .assim o fascínio entre o ir e o voltar
.a ausência perfeita ou o fluir da asa pintada
de negro no balcão da cozinha .escusam-se
os olhos
.as mãos absorvem o escuro cá dentro
.lá fora os pés matam o instinto






juana romani







pasmo







in.distinto como a placidez da luz vence-se o
coágulo no passar a seringa .o dedo cospe .a
manha urge manter o segredo sob a capa do
tempo .e este que absorve o cercado havido o
mando ao carpir da tarde redime o pre-texto
.mansos os vermes adormecem a noite e
esta acorda o espreitar a manhã .ficam-se os
ventos entre a porta que range e a janela que
bate num amanhã retardado
.a equivalência repete-se






juana romani







perfeição







de mestre o golpe no cerzir a tardança
inteiro o mistério que se queda aqui .mostruário
de vestes .sacras as liturgias rasgadas as opas no
ácido escorregar pelas lapelas dos púdicos .adorno
quebrado o Inverno e os trajes funâmbulos
desembocam na eira vencido o instinto .Azrael já
cospe .avidez .perfídia .estrume que baste no a-braço
ao poeta .na cidade dos anjos o vento é cru
.desdenhoso
.atávico no aguçar a argila






juana romani







viagem







demora o vazio a des.coser as vísceras
tardos os sentidos na ferida suada .e o êxtase
mimético que nobilita a colagem perde-se
aquém a baínha da saia .silêncio que é vária
.atípica a tragédia que oferece a viagem 
marinheiro doente no porão da nau sem
partida ou chegada na pontuação do veludo .a
rendição exige no omisso o resgate .o partilhar
o tempo no recolher da dança
vencida a
distância






juana romani







vigília







omitido o sinal de fogo vassala o infante
descontínuo o acento .e o molde mendigo
re.acende a sombra quietada a violência
da asa na água .escorre de manso .em rio
para o mar .e a vida já morte omite no
feto o breve desmedro alapado no chão
.omite-se a baga em parco crepúsculo e os
regatos atípicos cercam as saias quanto
mordaz o poder da carne
.enleio prematuro






juana romani







espúrio







tributo versado na corda e no salto
quando mendigado o dia .e no encontro
tardado se a angústia verbera um a-deus
ao longe as horas anseiam o logro que
estende a mão .registos talvez .agraves
inteiros espúrio o perdão .e o vento adversa
a silepse galopa a ideia .a síntese .engolindo
o vómito no próprio debulhe






juana romani







voragem







esganiços de vozes sobejam enquanto
lá fora o vento é agreste .quiçá temperado
quisera o menino queimada a seara sob
o efeito híbrido .e o vento roeu o
morno ditongo omitido na boca .um osso
talvez .talvez a poalha como sufôco de lama
a que aquiesce o medo .ninguém é sofrido
.a sorte lançada
.a morte aplaude gelado o granizo






juana romani







consumo







que vozes? que cantos? que música enfim?
o solfejo afoga-se no ritmo que bate no fundo
do pé .amarra que a vaidade oculta .sabor de
morango .baunilha .ananás .e o vento que não
volta devoto e cínico ao supermercado onde o
bife espera alguém que o compre
.falta a alface ao ramalhete do tempo .augúrio
.cortejo de carne na mão do algoz






juana romani







nonsense







disfórica a palavra .agónica a frase .aprontam-se
os gestos barrado o orgulho .e no momento seguinte
o escárnio resiste ao sabor da baba .escorre a aguada
sobre o ventre afundado o vómito .os dedos estranham
-se rente à sombra de um verter também
desfeita a onda
na convulsão do impasse
.uma prega exige a mortalha impune






juana romani







presságio







no ermo tão ermo ou em noite de não o rosto
alonga o entender os sinais .decifram-se os
códigos à mestria do verbo .cortejo macio
ao longo dos dedos que seguram o ácido e
o frio entre a-braços e beijos na extensão do
já visto .adorno de castos ou o
in.cómodo no circunscrever o dislate






juana romani







pundonor







havia um modo não outro de aquilatar a palavra
no encontro escrito depois e se a árvore se
alonga em fruto melântio o espaço das horas
des.faz-se em divisa e do vernáculo azulado
melancolizam estilhaços em vez de mandíbulas
.acrescem sentidos se a porta se cerra
.estranham-se sinais enquanto o incerto






juana romani







amansos







regressos havidos no apelo do manso
se a terra se tiver por frémito não dádiva
onde o sepulcro se amolda na pele
do bárbaro .questionam-se os éditos no luto
e o barco face à onda e ao medo afunda-se
na palma da mão
se o fruto se des.fizer no de.gelo do corpo






Juana Romani







.3

























amansos quietados ]
























.2







(…)
A função poética da linguagem, um dos seis elementos da comunicação, tem como principal característica a emissão de uma mensagem elaborada de maneira inovadora, encontrada predominantemente na linguagem literária, sobretudo na poesia.
(…)
O centro de interesse da comunicação na função poética é o próprio texto e, por isso, alguns recursos são utilizados para chamar a atenção do destinatário para a mensagem. Forma e conteúdo ganham um novo arranjo para provocar no leitor o prazer estético. Recursos como efeitos sonoros e rítmicos, além do uso das diversas figuras de linguagem, colaboram na tentativa de deslocar a mensagem de uma estrutura convencional que tolhe a criatividade artística.
(…)
Recurso muito utilizado nos textos literários, sobretudo na poesia, a função poética confere à linguagem elementos inovadores e sinestésicos.

Roman Jakobson , in “Função Poética .Elementos da Comunicação”


no recomeço proibitivo das metáforas

de mordaça breve o retardamento
 na ceifa que se quer
primeira .teia de folhas encriptadas
pelo levante circundado o momento
de deixar o assombro ao sabor do luto
.uma mão circula num gesto enquanto
a outra conduz ao sentido da insolência
não (con)sentida de um texto que se quer
menino escondido na sombra avulsa de
um equívoco .tudo se perde .tudo se
consome em pretéritos e presentes
quando cegos os lutos .e se
a mordaça retarda a ceifa a metáfora
planteia o dogma de um advir aquém
soluço como anástase de um arganaz
silêncio
.assim o modo de enviuvar o futuro


Gabriela Rocha Martins ,in “metáforas &ncriptadas”