afundo-me na afasia do absurdo







laura makabresku







des.faço a mala enquanto o telefone lambe o tapete .devolvo o olhar à porta do quarto para ser mais alta e vigio o cata-vento que me leva a tropeçar nos livros largados pelo chão .tento equacionar o que me rodeia e apago a luz .fecho as cidades que ainda não visitei num envelope sem destinatário e desço o rio até ao oceano .afundo-me na obscuridade semântica e deixo-me afagar na afasia do absurdo .já não tenho pachorra para os superlativos






na in.confidência das manhãs







laura makabresku







prendo-me à música de Schubert numa vã tentativa de convocar a rotina das manhãs .um desvio intencional condu-la à cama desfeita pelo móbil que oscila e no meu peito uma angústia des.contínua insinua-se .subo as escadas .limpo o quarto e deixo pendurada à janela a epítase como se a colheita dos males menores fosse o previsível declínio das coisas perecíveis .mais um quarto de sol e apago-me








jangada mas não de pedra







laura makabresku







sintoma preclaro da vulnerabilidade do não saber até que ponto chega a minha dislexia é este esquadrar a distância em que o vocábulo se endossa .esqueço-me do meu lugar no dorso das areias e afago a frase que no livro declara a leviandade dos nomes .ondulo atípica no casulo das abelhas com a sombra das tuas coxas como jangada largada ao vazio das horas 






indícios de muito má fé







laura makabresku







qual dos pontos cardeais se indicia neste vaguear de porta em porta .neste extrapolar caminhos .no carregar aos ombros a lama subjacente aos restos das ventanas abertas ao frio e à chuva? .digo não .não .não e não às mãos que vagueiam solitárias e aos pés fermentados no vinho novo .quero-me à volta da fogueira ateada com as coisas banais .a-fora o olhar inserido no rastro da volubilidade






o voo das águias







laura makabresku







levanto do chão o gelo das palavras .ventilo-as no agnosticismo de uma ventoínha comprada na loja dos chineses






omito o duplo sentido da frase







laura makabresku







rendo-me ao questionável .às imagens que in.domáveis solto e aos murais que apago apesar da lupa do tempo .desfaço matérias a troco de insónias e risos voadores .na minha cabeça escrevo o ventre negro de uma mãe branca e assim re.faço o rastilho que nem as bestas re.conhecem .laudatórios os cânticos finais apostos à distorção 






o quotidiano das palavras banais







laura makabresku







ignoro o escrevinhar clausuras .ruídos .sonidos espargidos numa morte lenta .comigo ficaram as notas presas por alfinetes sem ponta .resta-lhes a gravidade do figurável agrafado a um quotidiano fastidioso .ao longe a vassalagem da cor omitida por rendição








um dia a mais ou a menos







laura makabresku







um dia a mais do que ontem na in.significância da irradiação matemática das horas em que se afagam os minutos excedidos sem nunca se chegar ao excesso do dia .as horas reconhecem a in.eficácia de uma presença no insólito de uma escrita aparentemente inofensiva .há marcas de murros no arranjo das margens e a gravidade do agora apaga-se na distância .resta do presente a desfaçatez do momento seguinte






na in.eficácia mais do que aparente do agora







laura makabresku







estruturo  na aparência de um sôfrego acaso o gesto como carência deixada ao abandono .ao longe a sinfonia do nunca ou o excesso do agora afável ao denominador comum que se ousa em linha branca .maior que o silêncio a des.lembrança de uma disfunção menor já que a maior se purga no após








no livro de horas sublinham-se os excessos







laura makabresku







um esgarço de hora a esvoaçar o instante .a dúvida que coloco na ausência dos dias .das horas que seduzem a nódoa subjacente à insinuação duma estrutura esfacelada que se desdobra em excessos .rasgo-a ou deito-a fora à espera de um beijo de papel pardo .hoje é tempo de paciências






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I - esgarçam-se os anversos &m memórias
congeladas ...










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*

(…)
Já morreram os ídolos todos da infância
e os da adolescência vão a caminho,
sobrevivente é o teu olhar cego
( hoje só há um dos Righteous Brothers ).

_Helder Moura Pereira

*
*

guardam-se entre os dedos os búzios que revestem
os poemas con.sa(n)grados

_Gabriela Rocha Martins










epígrafe






pro.moções made in Taiwan


























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laura makabresku








[ memórias con.geladas &m pautas ]